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Caso clínico 15A2-I

José tem 18 anos de idade, é atleta e está fora de casa desde os 14 anos para se dedicar aos treinos de handebol. Desde pequeno, demonstrava interesse pelo esporte e se destacava em todas as partidas despretensiosas de que participava, talvez por influência do pai, que era jogador de futebol conhecido na região, e seu maior incentivador.

Faz seis anos que a mãe de José faleceu. Desde a adolescência, ela sofria com problema mental, mas só foi diagnosticada com transtorno bipolar após o falecimento da avó materna de José, quando ele tinha 8 anos.

Em entrevista, José assim se manifesta: “Com a morte de minha mãe, passei a me isolar mais e a evitar festas e amigos. Ia para a escola porque meu pai me obrigava. Não sei como não desisti de tudo! Seis meses após o falecimento de minha mãe, participei de uma seleção de atletas para compor uma equipe. Não estava bem ainda. Nem acreditei quando saiu o resultado: fui classificado. Acho que meu pai apostou tudo em mim, já que minha irmã nunca mais foi a mesma desde a perda de nossa mãe. Ela sempre foi a mais parecida com nossa mãe, em todos os sentidos. Faz acompanhamento psicológico, desde os 10 anos de idade, para ansiedade, quando veio o diagnóstico de transtorno obsessivo. Hoje, aos 16 anos, já sabemos lidar com as manias dela. Até hoje, a morte da minha mãe é um assunto evitado quando estou com meu pai e minha irmã, e fazemos isso para poder seguir com a vida. Hoje, faço o que gosto, consigo me manter e ajudar meu pai nas despesas da casa. Não posso dizer que sou feliz, mas consegui ser reconhecido pelo meu trabalho e esforço. Estou no melhor time de handebol do país e sendo pago para isso. Por um lado, é bom. Por outro, acho que isso pesa um pouco. As competições mexem muito comigo, a ponto de eu não conseguir dormir à noite. No dia da competição, perco o apetite e sempre entro em quadra já com a camisa molhada, tamanho o nervoso que fico. Sei que sou importante para o time como um todo e não posso falhar!”.

Considerando o caso clínico 15A2-I, as contribuições da psicopatologia e o manual estatístico e diagnóstico dos transtornos mentais (DSM-V), assinale a opção correta.

Resposta:

A alternativa correta é letra B) O luto normal apresentado por José diferencia-se do transtorno do luto complexo, este caracterizado pela presença de reações graves de luto que persistem por pelo menos doze meses após a perda do ente querido.

   

 

 

 

  

Aluno, que tal conhecermos um pouco sobre assunto, para então analisarmos as alternativas?! Para isso, considere a análise desta questão dividida em duas partes:

1) Sobre o Luto conforme o DSM-V

2) Análise das alternativas

  

1) Sobre o Luto conforme o DSM-V

 

Para a compreensão do assunto, acompanhe as pontuações a seguir atentando-se para os grifos em azul:

 
  • Sobre o assunto LUTO, o DSM-5, publicado em 2013, apesar de ainda não categorizar como diagnóstico oficial, propôs o conceito de luto patológico, que se distingue do normal pelo tempo de vivência, ou seja, patológico é o luto que persiste com severidade para além dos 12 meses que sucedem o falecimento.
 
  • Vale ressaltar também que no DSM-5, o luto foi mantido como diagnóstico diferencial do Episódio Depressivo Maior, no entanto, a duração normal considerada é de doze meses. Além desta distinção, observa-se nesta edição a formulação do Transtorno do Luto Complexo Persistente, inserido no tópico “Condições para estudos posteriores”. Neste sentido o DSM-V incluiu um diagnóstico diferencial entre transtorno do luto complexo persistente e Transtornos Depressivos destacando o seguinte:

 

“Transtorno do luto complexo persistente, transtorno depressivo maior e transtorno depressivo persistente (distimia) compartilham tristeza, choro e pensamento suicida. Enquanto o transtorno depressivo maior e o transtorno depressivo persistente podem compartilhar o humor deprimido com o transtorno do luto complexo persistente, este último é caracterizado por um foco na perda” (DMS-V, 2014, p. 792)

 
  • Nessa linha de raciocínio, diferenciando especificamente a condição LUTO de outros tipos de quadros patológicos, o DSM-5 (2014) destaca:
 

O luto pode induzir grande sofrimento, mas não costuma provocar um episódio de transtorno depressivo maior” (p. 155) [...] Transtornos de adaptação podem ser diagnosticados após a morte de um ente querido quando a intensidade, a qualidade e a persistência das reações de luto excedem o que se esperaria normalmente, quando normas culturais, religiosas e apropriadas à idade são consideradas.” (p. 288)

 

OBS:  aproveita-se para destacar, que caso os sintomas apresentados por José, fossem mantidos por pelo menos 12 meses após o óbito da mãe, o quadro (mantendo o foco na perda) estaria próximo dos transtornos de adaptação, do transtorno do luto complexo persistente, que do transtorno depressivo maior.

  

2) Análise das alternativas

 

a) A morte da mãe fez eclodir em José um episódio depressivo maior.

INCORRETA. Corrigindo: caso os sintomas apresentados por José, fossem mantidos por pelo menos 12 meses após o óbito da mãe, o quadro (mantendo o foco na perda) estaria próximo do transtorno do luto complexo persistente.

   

b) O luto normal apresentado por José diferencia-se do transtorno do luto complexo, este caracterizado pela presença de reações graves de luto que persistem por pelo menos doze meses após a perda do ente querido.

CORRETA. A alternativa é compatível com o que destaca o DSM-V, onde patológico é o luto que persiste com severidade para além dos 12 meses que sucedem o falecimento, ao contrário dos aspectos de luto normal apresentado por José, portanto, alternativa VERDADEIRA.

   

c) O humor deprimido associado ao envolvimento excessivo na prática de esporte constituem critérios para o diagnóstico de transtorno bipolar I de José.

INCORRETA. Contrariando o que traz a alternativa, acompanhe o explícita a narrativa do caso: faz seis anos que a mãe de José faleceu. Desde a adolescência, ela sofria com problema mental, mas só foi diagnosticada com transtorno bipolar após o falecimento da avó materna de José, quando ele tinha 8 anos, portanto, único quadro de transtorno bipolar ratificado pelo enunciado é o da mãe de José.

   

d) Após o falecimento da mãe, José apresentou características condizentes com o transtorno de ansiedade de separação, haja vista a tristeza pela separação de sua figura de apego, além de isolamento e dificuldade de frequentar a escola.

INCORRETA. As características apresentadas pelo paciente são concernentes ao luto normal e não compatíveis com quadros mentais patológicos, portanto, opção FALSA.

   

e) José apresenta critérios para transtorno de estresse pós-traumático, em vista dos prejuízos decorridos, de curto e de longo prazo, em seu funcionamento social, profissional e afetivo.

INCORRETA. Apesar de José não apresentar TEPT provocado pelo Luto, confira o que traz o DSM-V sobre o assunto:

Indivíduos que experimentam luto em consequência de morte traumática podem desenvolver tanto transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) quanto transtorno do luto complexo persistente. Ambas as condições podem envolver pensamentos intrusivos e evitação. Enquanto as intrusões no TEPT giram em torno do evento traumático, as memórias intrusivas no transtorno do luto complexo persistente são focadas em pensamentos a respeito de muitos aspectos do relacionamento com o falecido, incluindo aspectos positivos do relacionamento e sofrimento pela separação.(DSM-V, 2014, p. p.792)”

 

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Fonte consultada:

Associação Psiquiátrica Americana (APA). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

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