De acordo com Ferreira (2014) em “A constituição da loucura como doença mental”: “[…] como nos mostra Foucault em A história da loucura (1972 [1961], antes do século XIX, não existe o conceito de doença mental […]” (in JACÓ-VILELA, 2014, p. 38). A partir da obra do autor, analise as afirmativas a seguir.
I. No Renascimento (séc. XV e XVI), especialmente nas representações pictóricas, a loucura é expressa como uma espécie de saber esotérico sobre o nosso destino trágico.
II. Nos séculos XVII e XVIII, a loucura é excluída da ordem da razão e do contexto da experiência social, em que os loucos passam a ser enclausurados.
III. Do século XIX em diante, os loucos se vêm libertos, circunscritos agora ao espaço asilar em que o louco, agora doente mental, pode expressar livremente a sua loucura.
Levando em consideração o autor, estão corretas as afirmativas:
- A) I apenas
- B) II e III apenas
- C) I e II apenas
- D) I, II e III
Resposta:
A alternativa correta é letra D) I, II e III
A questão está baseada no seguinte texto:
"A constituição da loucura como doença mental
Essa prática é fundamental para a constituição de uma forma de experiência psicológica, pois como nos mostra Foucault em A história da loucura (1961), antes do século XIX não existe o conceito de doença mental, e se recuarmos para antes do século XVII, não encontraremos uma divisão radical entre razão e loucura. Nesse texto clássico, Foucault mostra que o percurso do Renascimento até os nossos dias tem o sentido da progressiva separação e exclusão da loucura no seio das nossas experiências sociais, recolhendo-se esta ao interior dos asilos e de nossas experiências psicológicas. Para tal análise, são destacadas, do século XV até o século XIX, tanto as diferentes o manifestações sobre o conhecimento teórico da loucura (médicas e filosóficas) quanto a percepção social dos loucos, presente nos relatórios administrativos e burocráticos, e mesmo em manifestacões artísticas. Deste modo é que no Renascimento (séculos XV e XVI), especialmente nas representações pictóricas, a loucura é expressa como uma espécie de saber esotérico sobre o nosso destino trágico, como se o louco pudesse decifrar os sentidos confusos que o mundo apresentaria em sua aproximação do Juízo Final.
(...)
Nos séculos XVII e XVIII, a loucura definitivamente é excluída da ordem da razão e do seio da experiência social. No primeiro caso, encontramos a suposição de Descartes de que podemos encontrar a verdade até no sonho, mas jamais na loucura. No segundo caso, os loucos, especialmente nas grandes cidades, passam a ser enclausurados junto a uma população heterogênea, considerada excedente moral e econômico da sociedade: sodomitas, prostitutas, libertinos, sifilíticos, mendigos, blasfemadores, suicidas, magos, feiticeiros, alquimistas etc.
(...)
A linha divisória entre razão e desrazão, que surge no período clássico, cava sulcos mais profundos do século XIX em diante, quando os loucos se vêm libertos das correntes por Philippe Pinel (1745-1826) e Samuel Tuke (1784-1857) e separados de seus antigos parceiros de internamento, ainda que circunscritos ao espaço asilar. A loucura não é mais entendida como um problema dos nervos, mas como uma alienação da natureza humana, um fenômeno de natureza espiritual ou mental. E asilo não é mais visto como um local de punição, mas o espaço no qual 0 louco (agora doente mental), uma vez recluso, pode expressar livremente a sua loucura. (...)"
Fonte: "História da psicologia: rumos e percursos" (Jacó-Vilela et al.)
Com isso, nota-se que todas as afirmativas abaixo estão corretas.
Portanto, encontramos a resposta na Letra D.
a) I apenas
b) II e III apenas
c) I e II apenas
d) I, II e III
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