Logo do Site - Banco de Questões
Continua após a publicidade..

Texto 5A5AAA


Marlene tem cinquenta e cinco anos de idade e diagnóstico de depressão, dado quando ela tinha quinze anos de idade. Ela faz acompanhamento psicológico com frequência semanal há dois anos. Mesmo em uso de medicação prescrita pelo psiquiatra responsável pelo caso, ela tentou suicídio há trinta dias, por ingestão de medicamentos. Após vinte dias de internação, ela foi encaminhada a uma clínica de saúde mental. Como plano terapêutico, a equipe dessa clínica propôs a Marlene psicoterapia individual, acompanhamento psiquiátrico, terapia familiar, oficinas de arte e de culinária e aulas de ioga.


A respeito de Marlene, o pai dela afirmou o seguinte para a equipe clínica: “Ela sempre foi minha filha problemática. Nunca se deu bem na escola. Já tentou se matar inúmeras vezes. Desde jovem, era difícil. Chorava sempre e sem nenhum motivo aparente. Houve uma época em que ela se cortava. Não tinha amigos nem animação para nada. Nunca foi de sair. Sempre ficou no seu quarto com suas coisas. Acho mesmo é que Marlene nunca quis viver. Já nasceu deprimida. Era um bebê triste. A mãe dela sempre teve depressão. Nunca conseguiu cuidar das nossas filhas. Sempre ficou tudo por minha conta.”.

 

Considerando o caso clínico hipotético apresentado no texto 5A5AAA, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), a Classificação Internacional das Doenças (CID-10) e as abordagens psicológicas, assinale a opção correta.

Resposta:

A alternativa correta é letra D) No caso de Marlene, a tentativa de suicídio por si só não serve como critério diagnóstico de depressão.

Considerando o caso clínico hipotético apresentado no texto 5A5AAA, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), a Classificação Internacional das Doenças (CID-10) e as abordagens psicológicas, assinale a opção correta.

a) Segundo as contribuições lacanianas, Marlene apresenta uma estrutura psicótica devido ao comportamento de cutting, iniciado na adolescência.

Entenda o que é cutting, segundo Ferreira e Ravasio:

"Chamamos de automutilação/cutting a prática de autoprovocar-se cortes na pele de forma intencional, que para algumas adolescentes torna-se uma compulsão, sendo que recorrem aos cortes na pele como um alívio frente a situações de angústia"

A afirmativa está errada, pois a automutilação não gera uma estrutura psicótica.

Assertiva Falsa.


b) Com base na teoria freudiana, o diagnóstico de depressão de Marlene consiste em um fechamento necessário do ego para evitar a desintegração psíquica.

Freud não fez uma sistematização do fenômeno depressivo, porém podemos pensar sobre o fenômeno a partir de alguns escritos dele, como, por exemplo, o que ele teorizou sobre a melancolia. Segundo Zeferino Rocha:

"O que me proponho como objetivo, neste ensaio, é oferecer, à luz da psicopatologia freudiana, uma contribuição para o estudo teórico-clínico da depressão. Freud não fez um estudo sistemático das diversas manifestações clínicas do fenômeno depressivo, vale dizer, ele não elaborou, de forma sistemática, uma explicação metapsicológica dos fenômenos depressivos. As inúmeras referências aos sintomas depressivos encontram-se disseminadas em sua obra, nos contextos clínicos e doutrinários os mais diversos.

 

(...)

 

Entre as diversas formas clínicas da depressão, a Melancolia foi, seguramente, aquela que mais chamou a atenção de Freud, e se tornou objeto de um importante estudo metapsicológico, escrito em 1915 e publicado em 1917, com o título: Luto e melancolia [Trauer und Melancholie] (Freud, 1917)".

No processo de melancolia, o ego e o objeto perdido confundem-se. Segundo Zimerman:

"O protótipo dessa situação depressiva está contida na famosa expressão de Freud (1917, p. 281) 'a sombra do objeto recai sobre o ego' e, podemos completar, vai fazer parte integrante do próprio núcleo do ego. Resulta daí que o objeto perdido e o ego, em um processo que lembra o fenômeno da osmose, confundem-se entre si de tal sorte que o destino de um passa a ser o destino do outro".

Portanto, vemos que o correto seria falar que o ego e o objeto perdido confundem-se. Está inadequado falar que, com base na teoria freudiana, a depressão consiste em um fechamento do ego.

Assertiva Falsa.


c)  Haja vista a evolução clínica descrita, Marlene atende a critérios para quadro de transtorno somático.

De acordo com o DSM-V, os critérios para o Transtorno de Sintomas Somáticos são os seguintes:

Critérios Diagnósticos 300.82 (F45.1)


A. Um ou mais sintomas somáticos que causam aflição ou resultam em perturbação significativa da vida diária.


B. Pensamentos, sentimentos ou comportamentos excessivos relacionados aos sintomas somáticos ou associados a preocupações com a saúde manifestados por pelo menos um dos seguintes:


1. Pensamentos desproporcionais e persistentes acerca da gravidade dos próprios sintomas.


2. Nível de ansiedade persistentemente elevado acerca da saúde e dos sintomas.


3. Tempo e energia excessivos dedicados a esses sintomas ou a preocupações a respeito da saúde.


C. Embora algum dos sintomas somáticos possa não estar continuamente presente, a condição de estar sintomático é persistente (em geral mais de seis meses).

No caso explicitado, não vemos uma preocupação por parte de Marlene devido a um sintoma somático. 

Assertiva Falsa.


d) No caso de Marlene, a tentativa de suicídio por si só não serve como critério diagnóstico de depressão.

Os critérios para o Transtorno Depressivo Maior são os seguintes, de acordo com o DSM-V:

Critérios Diagnósticos


A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer.

 

Nota: Não incluir sintomas nitidamente devidos a outra condição médica.


1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex., sente-se triste, vazio, sem esperança) ou por observação feita por outras pessoas (p. ex., parece choroso). (Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.)


2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicada por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas).


3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., uma alteração de mais de 5% do peso corporal em um mês), ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias. (Nota: Em crianças, considerar o insucesso em obter o ganho de peso esperado.)


4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias.


5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outras pessoas, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento).


6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.


7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente).


8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas).


9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio.


B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.


C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica.

Percebemos, portanto, que tentativa de suicídio é apenas um dos critérios e, para o diagnóstico, é necessária a presença de outros sintomas.

Assertiva Correta.


e) De acordo com a abordagem psicológica de Donald Winnicott, a capacidade de deprimir-se apresentada por Marlene se refere à perda do objeto.

Freud discorre sobre a relação do ego com o objeto perdido. No caso de Winnicott, ele considera os aspectos que podem ser saudáveis e patológicos da depressão, além de trazer o conceito de força do ego. Veja o que Vidal e Lowenkron falam:

"Winnicott (1964/1999) nos apresenta sua compreensão sobre o valor da depressão, ou seja, o aspecto saudável da depressão, a partir de um paradoxo: por um lado, as pessoas deprimidas podem se suicidar, sofrer transtornos psiquiátricos, enfim, viver toda uma série de riscos característicos; a capacidade para deprimir, por outro lado, encontra-se intimamente ligada ao conceito de força do ego, ao estabelecimento do self e à descoberta de uma identidade pessoal, ou seja, encontra-se próxima dos estados de saúde.

 

(...)

 

Assim, ao apresentar uma psicologia da depressão, o autor propõe que a estrutura de ego será determinante para a aproximação, continuidade ou diminuição da experiência depressiva. Tal assertiva indica que a pureza ou impureza da experiência depressiva depende da capacidade individual da estrutura do ego em suportar uma fase de crise para, conseqüentemente, alcançar sua integração.

 

Em relação à etiologia dos transtornos depressivos, haveria sempre uma nova experiência de destrutividade e de idéias destrutivas que demandaria uma reavaliação interna. Essa reavaliação realizada pelo sujeito se constituirá como experiência depressiva".

Assertiva, portanto, Falsa.

A alternativa correta é, portanto, a Letra D.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *