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Anabelle, 25 anos, foi presa 48 horas após os corpos de seus pais serem descobertos na cozinha da casa, esfaqueados e misteriosamente mutilados. A vizinha chamou a polícia quando se deparou com o rastro de pegadas de sangue que saía da porta de serviço em direção à mata ao fundo do quintal. Anabelle foi encontrada na mata, de camisola, coberta de sangue, escondida em um buraco entre duas árvores; ela não reagiu à captura.
Quando interrogada, Anabelle disse que há uma semana o demônio a orientava para um ritual de purgação, no qual deveria assassinar o pai, arrancar seu pênis e suas mãos e os enterrar na floresta, sob uma árvore morta, para que o pai nunca mais lhe fizesse mal; Anabelle deveria, ainda, enterrar, numa cova ao lado, as orelhas e os olhos da mãe, que nunca quiseram ver e ouvir o mal.
O psiquiatra forense a avaliou e concluiu apenas que o demônio poderia ser uma alucinação auditiva de comando em primeira pessoa. A expressão afetiva de Anabelle estava inadequada, uma vez que ela permanecia todo o tempo com um sorriso no rosto, o olhar fixo em um ponto infinito, as mãos relaxadas sobre o colo, mal movendo a cabeça ou o tronco.
Às vezes Anabelle coçava a face ou passava a mão em uma das tranças. Parecia sem vontade própria, como uma boneca. Para levantar-se e assentar-se teve que ser ativa e fisicamente conduzida pelo enfermeiro.
Informações no momento: Anabelle não tinha qualquer histórico psiquiátrico, era uma aluna exemplar e estava se formando em medicina. Sempre pareceu normal, mas tímida e de cara fechada e com a vizinha só trocava monossílabos. Quando Anabelle estava em casa permanecia praticamente todo o tempo em seu quarto. E quando não estava na faculdade, seus pais se queixavam que nunca sabiam onde andava. Há pouco tempo havia feito uma tatuagem de pentagrama invertido nas costas. Os pais observavam que ela tinha poucos amigos, pessoas estranhas. E estava namorando um rapaz desconhecido há poucas semanas.
O psiquiatra forense, ao formular sua conclusão sobre o caso, deve considerar as hipóteses a seguir, à exceção de uma. Assinale-a.
- A) Investigação da personalidade premórbida através de relatos de convivas, em especial amigos atuais, professores do fundamental, ensino médio e faculdade. Caso observe um padrão esquizotípico, esquizoide ou paranoide, a probabilidade de um primeiro surto esquizofrênico seria uma hipótese bastante provável.
- B) Na ausência de personalidade pré-mórbida do grupo A, devemos considerar a personalidade sociopática e que Anabelle esteja simulando um quadro psiquiátrico para garantir inimputabilidade. Ela é inteligente e formanda em medicina, o que propiciaria condições para uma boa encenação. Mas para tal, deve ser observado um motivo para o crime como, por exemplo, ganho primário ou vingança contra pais abusadores.
- C) Também na ausência de personalidade do grupo A, não podemos descartar um processo dissociativo secundário a uma possível história de transtorno de estresse pós-traumático significativo.
- D) Na ausência de transtornos de personalidade ou psicose primária, ou motivo que justifique um crime banal, deve ser considerada a possibilidade de alucinações e violência, bem como um processo psicótico agudo como resultado de um uso intenso e cronificado de substâncias psicoativas como a cocaína, o álcool e a cannabis.
- E) Pode ter sido um crime banal, sob intoxicação aguda de substâncias, como álcool ou alucinógenos por exemplo, após uma discussão com os pais. Para forjar um álibi após ter esfaqueado os pais sob violenta emoção, simulou um surto psicótico. Mais uma vez, um motivo deve ser investigado cuidadosamente.
Resposta:
Resposta:
A alternativa correta é letra D) Na ausência de transtornos de personalidade ou psicose primária, ou motivo que justifique um crime banal, deve ser considerada a possibilidade de alucinações e violência, bem como um processo psicótico agudo como resultado de um uso intenso e cronificado de substâncias psicoativas como a cocaína, o álcool e a cannabis.
Explicação:
- A alternativa A é incorreta porque, embora a investigação da personalidade pré-mórbida seja importante, ela não exclui a possibilidade de um processo psicótico agudo induzido por substâncias.
- A alternativa B é incorreta porque, embora a simulação seja uma possibilidade, a ausência de um motivo claro e a presença de alucinações auditivas de comando sugerem um processo psicótico.
- A alternativa C é incorreta porque, embora um processo dissociativo seja possível, a presença de alucinações e violência sugere um processo psicótico mais agudo.
- A alternativa E é incorreta porque, embora um crime banal seja possível, a presença de alucinações e violência sugere um processo psicótico mais agudo.
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