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Juarez Cruz (1989) afirma que o profissional que pratica a Psicoterapia de Orientação Analítica deve, ao olhar para os casos clínicos que está atendento, trabalhar de forma diferente de quem pratica uma Análise tradicional.

Assinale a alternativa que distingue a prática em Psicoterapia de Orientação Analítica da prática de uma Análise propriamente dita, nos moldes propostos por Freud.

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Resposta:

A alternativa correta é letra D) Foco na situação atual

Gabarito: Letra D

Juarez Cruz (1989) afirma que o profissional que pratica a Psicoterapia de Orientação Analítica deve, ao olhar para os casos clínicos que está atendendo, trabalhar de forma diferente de quem pratica uma Análise tradicional.

 

a)  Foco no conflito

b)  Foco na relação com o terapeuta

c)  Foco na ansiedade despertada

d)  Foco na situação atual

e)  Foco na relação entre as forças envolvidas no conflito

 

Vamos começar vendo uma distinção entre psicoterapia e psicanálise feita por Zimmerman que, apesar de não ser suficiente para responder a questão, vai nos ajudar a começar a entender:

““A “psicanálise propriamente dita” e a “psicoterapia psicanalítica”, ao final de um espectro, são qualitativamente diferentes uma da outra, se bem que exista um terreno fronteiriço de casos entre elas. Uma comparação análoga pode realizar-se entre o fato de que a consciência é distinta do inconsciente mesmo quando existe um pré-consciente e diferentes graus de consciência. O dia é diferente da noite, mesmo quando existe o crepúsculo; e o preto é diferente do branco, não obstante exista o cinza”. De forma genérica, como uma forma de síntese do que já foi exposto, os seguintes pontos merecem ser ressaltados:

 • A expressão “psicoterapia” é mais abrangente do que “psicanálise”, sendo que esta última é mais restrita e não deixa de ser uma das diversas formas de psicoterapia, se bem que a mais profunda, sofrida, elaborada e pretensiosa dentre todas elas.

• É uma questão difícil, delicada e até presunçosa a tarefa de estabelecer uma nítida delimitação entre ambas, porquanto, se existem evidentes diferenças, também existem as áreas equivalentes as de uma “aurora” ou “crepúsculo”.

 • O problema da distinção entre psicanálise e psicoterapia pode ficar muito facilitada se seguirmos estritamente e ao pé da letra os postulados técnicos recomendados por Freud, relativos ao cumprimento das regras da “livre associação de idéias”, da “neutralidade”, da “abstinência”, do “anonimato do analista” e das regras que presidem as interpretações centradas quase que exclusivamente no “aqui-agora” da neurose transferencial. Ocorre que essa solução não é tão fácil, a começar pelo fato de que a própria conduta técnica de Freud, tal como está expressa em seus historiais clínicos, diferia muito do que ele sustentava em seus clássicos trabalhos sobre a teoria da técnica, quase todos escritos nos anos de 1912 a 1915.

• Por outro lado, podemos questionar-nos se na análise contemporânea existe uma técnica analítica única, embora ela permita variações de táticas, estratégias e estilos, ou se, pelo contrário, existem princípios técnicos básicos (setting, resistência, contra-resistência, transferência, contratransferência, interpretação, elaboração, etc) que se instrumentam de modos distintos, conforme forem as diferentes estruturas e circunstâncias específicas de cada paciente. Em qualquer dos casos, é necessário considerar a influência fundamental dos postulados teóricos nos quais o analista está essencialmente ancorado.

• Assim, os “elementos de psicanálise” (Bion, 1962) são virtualmente os mesmos em todas terapias psicanalíticas. No entanto, as múltiplas combinações entre tais elementos determinam as inúmeras e diferentes formas no campo analítico. Serve a metáfora de que as mesmas notas musicais compõem melodias diferentes, desde as bem simples até as mais sofisticadas e complexas; assim como também as mesmas e poucas letras de um alfabeto, conforme o arranjo delas, compõem infinitas palavras e discursos diferentes.

• Segundo J. MacDougall (1991, p. 73), “embora a distinção seja difícil, quer se trate de psicanálise ou psicoterapia, a finalidade básica de tornar consciente o inconsciente é a mesma nas duas. Às vezes, temos de reduzir os objetivos porque o paciente não pode suportar ir mais longe”.

• Prossegue essa importante autora: “O grande diferenciador entre psicoterapia e psicanálise consistia no fato de que somente o aprofundamento possibilitado pelas peculiaridades dessa última é que permitiria uma reconstrução do passado como explicação para o comportamento do presente do analisando. No entanto, esse aspecto, na atualidade, embora conserve a sua importância, já não é mais considerado um instrumento terapêutico tão mágico e exclusivo como se considerava até há algumas décadas. Muitos outros fatores concorrem, e que estão igualmente presentes na prática das terapias analíticas”.”

 

Esse último ponto é bem relevante para nós. Tanto a análise quanto a psicoterapia de orientação analítica valorizam a relação paciente/terapeuta e analisam o conflito, as forças envolvidas nele e a ansiedade despertada pelo processo terapêutico.

O que varia, principalmente, são elementos do setting, como o uso do divã, presente na análise e ausente na psicoterapia de base analítica, o número de sessões semanais, muito maior na análise, e alguns elementos como a forma de entender e trabalhar com os fenômenos resistenciais/contra-resistenciais; os transferenciais-contratransferenciais; o conteúdo, forma e finalidade da atividade interpretativa.

Como vimos no último ponto levantado por Zimerman, a análise propriamente dita faz um trabalho de reconstrução do passado, enquanto a psicoterapia de base analítica não tem essa pretensão, por que seu foco é a situação atual, e não o passado.

“Parece necessário, portanto, fazer a ressalva de que o objetivo da psicoterapia psicanalítica seria o tratamento focado no conflito atual do paciente. Mesmo considerando que há relação entre o conflito primário e o conflito atual, na psicoterapia psicanalítica os conflitos são tratados com algum grau de independência. Neste caso, o objetivo seria possibilitar ao indivíduo a ampliação do entendimento sobre seu funcionamento, a que, por sua vez, acarretaria o uso de defesas mais maduras e a melhora do padrão das relações objetais; a psicanálise, ao contrário, tem por objetivo a elaboração do conflito primário11. Segundo Kernberg12, o objetivo da psicanálise seriam as alteraçoes da estrutura - a integração dos conflitos inconscientes recalcados ou dissociados no ego consciente -, enquanto o objetivo das psicoterapias psicanalíticas seria a reorganizaçao parcial da estrutura psíquica num contexto de mudanças sintomáticas significativas.”

 

Nosso gabarito é Letra D

 

Fonte: Padoan CS, Gastaud MB, Eizirik CL. Objetivos terapêuticos para psicanálise e psicoterapia psicanalítica: Freud, Klein, Bion, Winnicott, Kohut. Rev. bras. psicoter. 2013;15(3):53-70

Zimerman, David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica : uma abordagem didática. Porto Alegre : Artmed, 2007.

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