Questões Sobre Doenças Infecciosas - Veterinária - concurso

A raiva (encefalite viral aguda) é uma doença de importância mundial, causada por vírus RNA, gênero Lyssavírus. O cão e o gato são as principais fontes de infecção na raiva urbana, por meio de mordeduras. Sobre a raiva, assinale a alternativa incorreta:

• A) Uma vez inoculado no hospedeiro, o vírus passa por uma fase inicial em que se multiplica em fibras musculares locais, em seguida invade terminações nervosas nos axônios motores, seguindo progressão retrógrada.
• B) Mudança de comportamento concorrente com sinais neurológicos – ataxia, paresia e paralisia – são fortes indicativos da doença, em especial nos cães.
• C) As alterações microscópicas se concentram no SNC, tendo quadro geral de meningoencefalite e mielite não supurativa.
• D) O uso de anticorpos fluorescentes na detecção do antígeno viral no cérebro fresco e refrigerado é a técnica de eleição no exame post-mortem.
• E) Corpúsculos de Negri em neurônios apenas ocorrem em animais com raiva, e outras enfermidades não produzem corpúsculos de inclusão semelhantes.

A alternativa incorreta é a E, pois embora os corpúsculos de Negri sejam característicos da raiva, não são exclusivos dela. Outras doenças, como a cinomose canina, podem produzir corpúsculos de inclusão semelhantes em neurônios, tornando essa afirmação imprecisa.

Com base na definição apresentada, que caracteriza fonte ou reservatório de infecção como um organismo vivo ou objeto inanimado que oferece condições adequadas para a sobrevivência e multiplicação de um patógeno, a alternativa correta é a B) Psitacose - papagaios.

A psitacose, também conhecida como ornitose ou febre dos papagaios, é uma doença causada pela bactéria Chlamydia psittaci. Seu principal reservatório natural são as aves, especialmente psitacídeos como papagaios, periquitos e araras, que abrigam e transmitem a bactéria, muitas vezes de forma assintomática. Essas aves fornecem o ambiente ideal para a persistência e multiplicação do agente etiológico, caracterizando-se assim como o reservatório da doença, conforme descrito no conceito.

As demais alternativas apresentam incorreções quanto aos reservatórios: o antraz tem como principal reservatório o solo contaminado por esporos; a doença de Lyme tem reservatório em roedores e veados; a raiva tem como reservatório mamíferos, principalmente morcegos e carnívoros; e a peste bubônica tem como reservatório principal roedores silvestres.

Em relação à identificação dos mecanismos e elementos das Doenças Transmissíveis, a afirmativa correta é:

• D) Fonte de infecção, vias de eliminação, vias de transmissão e porta de entrada.

Esta opção corretamente identifica os componentes essenciais da cadeia epidemiológica: a fonte de onde o agente infeccioso se origina, as vias pelas quais é eliminado da fonte, os mecanismos de transmissão para um novo hospedeiro e as portas de entrada através das quais infecta o novo organismo.

A fonte de infecção de maior importância na disseminação da leptospirose é representada pela urina de animais no período de leptospirúria. Durante esta fase, os animais infectados eliminam grandes quantidades de leptospiras viáveis através da urina, contaminando o ambiente e permitindo a transmissão da doença para humanos e outros animais através do contato com água ou solo contaminados.

As demais alternativas estão incorretas porque:

• A) No período patogênico, as leptospiras estão presentes principalmente no sangue, não na urina
• B) No período pré-patogênico não há eliminação de leptospiras
• D) As secreções de animais doentes não representam a principal via de transmissão
• E) O sangue de animais doentes é importante na fase aguda, mas não constitui a principal fonte de contaminação ambiental

Carbúnculo Hemático, Brucelose, Salmonelose e leptospirose apresentam em comum a característica epidemiológica de que a transmissão ocorre pela participação do meio ambiente. Esta opção corresponde à alternativa D) e constitui o gabarito correto.

Estas zoonoses compartilham a particularidade de ter o ambiente como elemento central na cadeia de transmissão. O Carbúnculo Hemático (antraz) espalha-se através de esporos presentes no solo que contaminam pastagens; a Brucelose dissemina-se por meio de excretas que persistem em ambientes como estábulos e pastos; a Salmonelose relaciona-se com água e alimentos contaminados por fezes; e a Leptospirose propaga-se principalmente através da água ou solo contaminados pela urina de animais infectados.

As demais alternativas não se aplicam uniformemente a todas as doenças: nem todas dependem de vetores biológicos (A), não possuem exclusivamente reservatórios silvestres (B), a destruição de vetores não é medida universalmente eficaz (C), e a variação estacional com chuvas (E) não é uma característica comum a todas estas enfermidades.

O item apresenta afirmação incorreta sobre a scrapie, uma doença priônica que afeta ovinos e caprinos, não suínos. A scrapie caracteriza-se por degeneração progressiva do sistema nervoso central, com perda neuronal e vacuolização de tecidos, mas acomete especificamente pequenos ruminantes. Além disso, embora haja resposta imune limitada devido à natureza dos príons, a descrição dos sintomas contém erro fundamental ao mencionar suínos como espécie afetada, quando na realidade a scrapie não é uma enfermidade que ocorre naturalmente nessa espécie.

Portanto, o item está ERRADO.

Com referência às enfermidades de notificação obrigatória, aos métodos de diagnóstico das enfermidades infecciosas e parasitárias e à vigilância sanitária, o item em análise aborda uma situação específica relacionada ao botulismo alimentar.

Em caso de suspeita de botulismo de origem alimentar, quando não há disponibilidade de restos do alimento efetivamente consumido para análise, a utilização da embalagem do alimento como amostra alternativa é uma prática validada. A toxina botulínica pode efetivamente aderir às paredes internas da embalagem, sendo passível de coleta mediante técnica de enxugadura com swab ou material absorvente esterilizado.

Quanto ao diagnóstico bromatológico, é correto afirmar que, nesta circunstância, ele deve ser realizado por meio de métodos in vivo (como o teste de neutralização em camundongos) ou in vitro (como ensaios imunoenzimáticos - ELISA), que permitem detectar a presença da toxina mesmo em amostras coletadas de superfícies.

Portanto, a afirmação está

• C) CERTO

O item está correto ao descrever a fisiopatologia do botulismo nos animais. A toxina botulínica, de fato, é absorvida pelo trato gastrointestinal após a ingestão de água ou alimentos contaminados, sendo subsequentemente transportada via corrente sanguínea (via hematógena) até atingir os neurônios colinérgicos periféricos. Sua ação específica ocorre nas junções neuromusculares, onde bloqueia a liberação de acetilcolina, resultando em paralisia flácida dos músculos. Caracteristicamente, a função sensorial permanece intacta, uma vez que a toxina não afeta neurônios sensoriais ou centrais, corroborando a afirmação apresentada.

O item está ERRADO, pois o Clostridium botulinum é uma bactéria anaeróbia estrita, o que significa que sua forma vegetativa se desenvolve apenas em ambientes com ausência de oxigênio (anaerobiose). Cadáveres em decomposição, apesar de poderem apresentar condições anaeróbias em tecidos mais profundos, não são ambientes típicos de aerobiose para o desenvolvimento dessa bactéria. Além disso, a afirmação incorretamente associa ambientes aeróbios ao crescimento do microrganismo, quando na realidade ele prospera em condições opostas.

O botulismo representa uma grave ameaça à saúde animal e à economia pecuária no Brasil. A afirmação de que a ocorrência desta doença em bovinos, diversas espécies domésticas e aves silvestres acarreta significativas perdas econômicas anuais está correta.

O botulismo animal no Brasil está frequentemente associado à ingestão de água ou alimentos contaminados com a toxina botulínica, especialmente em regiões com deficiência mineral onde os animais desenvolvem o hábito de consumir ossos e carcaças. Em bovinos, a doença causa paralisia flácida, dificuldade de locomoção e morte, resultando em perdas diretas por mortalidade e redução da produtividade. Aves silvestres e domésticas também são afetadas, com surtos que impactam tanto a avicultura comercial quanto a conservação de espécies nativas.

As perdas econômicas anuais decorrem não apenas da morte dos animais, mas também dos custos com vigilância sanitária, controle de surtos, restrições comerciais e queda na produção de carne, leite e ovos. Portanto, a afirmação está completamente adequada à realidade epidemiológica e econômica do país.